A obra analisa o impacto do movimento (anti)privatização do Banespa na consciência política e na predisposição dos trabalhadores à participação em ações coletivas. Utiliza a pesquisa qualitativa, adotando a entrevista com 17 sindicalistas e 28 trabalhadores, como método de coleta de dados, em 2001. Na interpretação dos dados, emprega a análise de conteúdo e o modelo analítico para estudos da consciência política de Sandoval (2001). Esse modelo é composto de sete dimensões distintas que se articulam de forma dinâmica, cujo jogo de reflexões busca explicar os motivos que levam as pessoas a optar pela ação individual ou coletiva. A partir da observação participante e de documentos do movimento antiprivatização, faz uma caracterização do marco teórico desse movimento e da desmobilização no início do processo de reestruturação pós-privatização. Nos relatos dos entrevistados, identifica a presença de uma consciência coletivista (sindicalistas) e de uma consciência individualista (trabalhadores), que permiti visualizar: a construção do movimento, a absorção de partes dos relatos dos sindicalistas pelos trabalhadores durante a luta contra a privatização e as metas que os (des)unem. Conclui que a participação no movimento antiprivatização fortaleceu o sentimento de identidade coletiva dos banespianos durante a luta contra a privatização favorecendo a mobilização dos trabalhadores. A derrota do movimento antiprivatização minimizou expectativas sobre a eficácia política do movimento sindical e o processo de reestruturação pós-privatização fragmentou a identidade coletiva favorecendo a desmobilização e enfraquecendo a participação sindical. A participação política e a participação em ações coletivas se mantiveram inalteradas devido a crenças, expectativas e valores relativos à transformação da situação político-econômica e social do Brasil.
A análise que a Marcia Prezotti Palassi faz do movimento antiprivatização do Banespa recupera uma discussão, ainda atual, dos trabalhadores banespianos e do movimento dos sindicalistas, por ocasião do processo de privatização ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso. A partir da análise de entrevistas realizadas com esses atores, identifica que a participação, nesse movimento, fortaleceu a identidade coletiva dos banespianos e favoreceu sua mobilização, ocasionando um impacto na sua consciência política e uma predisposição para participar das ações coletivas em defesa de seus interesses. Contudo, esses interesses não são da mesma ordem para os trabalhadores em geral e para os sindicalistas, em particular, pois enquanto os trabalhadores possuem uma consciência individualista, os sindicalistas, ao contrário, revelam uma postura coletiva, o que se manifesta na condução da luta contra a privatização. A autora traz uma contribuição relevante para o debate, pois mostra que apesar do movimento preconizar um objetivo comum, a posição dos sindicalistas e dos trabalhadores serem diversa, há uma identidade coletiva diante dessa luta que faz com que melhore a sensação de autoestima, que permite que o movimento desconstrua a imagem de vilões, que se atribui, geralmente, ao funcionário público e, no caso, ao bancário. Isso fez com que fossem identificadas ações que caracterizam e valorizam a trajetória dos bancários banespianos, como a aprovação em concurso para admissão no banco, dedicação e paixão pelo trabalho e pelo banco. Esse debate é atual e a análise de Palassi lança luz para o entendimento de outras situações semelhantes que ocorrem na gestão pública estatal. Apesar da contribuição da antiprivatização para construir uma identidade coletiva dos bancários, a autora também revela que a privatização do Banespa fragilizou esse sentimento de identidade coletiva o que fez com que os trabalhadores passassem a duvidar da eficácia da ação sindical, promovendo a crença da falta de poder dos sindicatos. A privatização do Banespa além de ser uma derrota do movimento antiprivatização, não só minimizou as expectativas de eficácia política do movimento sindical, como, na pós-privatização, fragmentou a identidade coletiva e favoreceu a desmobilização, enfraquecendo a participação sindical. Este estudo do caso Banespa, apesar de ser datado, contribui para o entendimento do que pode ter ocorrido em outras organizações privatizadas, iluminando o papel do sindicato neste processo.
Luciano A. Prates Junqueira
Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Professor Assistente Doutor da Universidade Católica de Santos
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