“O bisturi corta furiosamente o ar e penetra o pescoço de Helena Augusta da Silva. A mulher cai ao chão e sangra aos borbotões. Numa fração de minuto, seu corpo é envolto numa densa camada vermelha de líquido quente e viscoso. O mar de sangue se espalha pelo quarto do casal. O marido e assassino, então, tranquilamente, vai ao Corpo de Polícia da Corte e se entrega. O ano era 1866, terça-feira do dia 6 de novembro.
Passado à história como ‘O crime do Dr. José Mariano da Silva’, o episódio causa polêmica até hoje no meio forense. Para a conservadora e escravista sociedade da época, a violenta e covarde morte de Helena serviu para restaurar a dignidade da honra do criminoso, que alegou estar fora da razão por ter sabido que sua esposa o traía com o vizinho. Os 12 jurados que encarnavam o domínio patriarcal no século XIX acataram integralmente a defesa do réu, cujo julgamento inaugura a chamada criminologia positivista… Uma obra instigante.”
Jotônio Vianna
Jornalista/Coluna Caxias em Off/Jornal Pequeno
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