Viver sempre foi um jogo dramático dividido entre o protagonista desejo pessoal e o antagonista desejo social. Para viver e sobreviver nesse jogo é necessário desenvolver um imaginário espontâneo e criador. O imaginário cria e recria mitos, identidades, religiosidades, histórias, desejos, novidades e esperanças. E é a espontaneidade que permite que ocorra a criação e a recriação. Sem esse movimento de criação e recriação a vida humana seria insuportável e tediosa.
Porém, há aqueles dogmáticos e conservadores que defendem o tédio e a monotonia na vida, privilegiando o antagonismo do desejo social. Esses escolhem uma forma de vida rígida e esperam fielmente que a abdicação de viver os torne exemplos de moralidade. Para honrar tal compromisso, nomeiam os livres criadores de libertinos, loucos, infantis, hereges e perturbadores. É de certo então que tais criadores são mal vistos pelos conversadores, necessitando assim desenvolver métodos, instrumentos, conceitos para amordaçar, aprisionar e limitar os feitos da liberdade criadora. E assim surgem as escolas, os conventos, os manicômios, as prisões, as ciências do comportamento.
Com o intuito de libertar das correntes instituídas a liberdade criadora e a espontaneidade, surge o psicodrama como criação do protagonista Jacob Levy Moreno. Esse despertou o desejo dos libertinos, dos loucos, das crianças, dos hereges e dos perturbadores, resgatando a divindade criadora, pura e alegre que cada ser humano possui. Tal feito valorizou a máxima escrita por Paulo aos Coríntios por onde diz: Mas o que é louco segundo o mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; o que é fraco, segundo o mundo, é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que é vil e desprezível no mundo, é que Deus escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. (1 Coríntios 1, 27-28)
Acreditar somente no que os sentidos podem ver e no que ditam como verdadeiro, pode limitar a nossa existência criadora e divina. Ser mais do que se é e mais do que não se é. É preciso criar o imaginário, viver o imaginário, ser o imaginário e depois voltar à realidade sem perder a capacidade imaginária. E quem sabe, às vezes, deixar que nosso imaginário nos iluda e o torne verdade. Pois assim, podemos viver em paz com os nossos próprios desejos protagônicos e antagônicos.
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