Uma história de amor. Mas também de lutas, de intrigas, de traições, de dores, toda perpassada por eterno anseio libertário. Seria uma história sobre a liberdade? Pode-se dizer, seja uma saga sobre sentimentos humanos, sobre pessoas apaixonadas pela vida – que amam, sofrem, sonham, reagem, recomeçam, lutam; com a particularidade de se desenrolar em meio a um cenário inegavelmente sofrido e injusto: o da escravidão, no seio do Recôncavo Baiano. Guilherme, poderoso senhor de engenho, que se apaixona por uma jovem escrava – a filha da Bá, velha enigmática, sábia, possuidora do dom de falar com a natureza, de traduzir os sinais do tempo e que chegou grávida na fazenda Pouso Alegre. Em pouco tempo, Mãe Miúda (como também era conhecida a Bá) ganhou a confiança e o respeito do senhor, ainda ele, em seu íntimo, a questionar o estranho poder que a envolvia – especialmente católico fervoroso, devoto de Santo Antônio. Ao revés de mais um caso de senhor que deseja uma de suas escravas, a sólida afeição entre Guilherme e Felicidade (que traz no nome o seu ideal de vida) muda os rumos daquela fazenda. Apesar de uma vida de privilégios, que a sua condição de amante lhe proporcionava, ela tenta conciliar o amor pelo seu dono com a vontade de ajudar os seus irmãos e irmãs escravos(as). Cercada por esses(as), que lutam pela liberdade resistindo e organizando fugas, Felicidade tem em Felícia sua especial amiga – uma escrava sedutora, destemida e revolucionária, que, a muitos, sinalizou caminhos de leveza e de alegria, mesmo ante dores e perseguições – a da sua mente conflituosa, por sinal. Sustentando o coração guerreiro da senzala contra a vida escravizada, o grito de Antonio – negro destemido e sedutor – ecoou em outros escravos e escravas, como na existência de Luanda, através de cujas mãos de lavadeira, muitas lágrimas puderam ser transformadas em açúcar derramado no chão. Sábia dona do tempo, Luanda, da cozinha da casagrande, é ponte de libertação para o seu povo e transita pelas páginas de todo o canavial literário da obra. Izabel, a sinhazinha, esposa do senhor adúltero, agoniza em silêncio com a traição escancarada do marido, a quem ama, pai de seus dois filhos. Na sociedade baiana do século XIX, revelam-se poderes, sofrimentos, pompas, sangues e os feitos de homens e mulheres batalhadores(as) ou entregues à inércia de suas vidas, dominadas por anseios e frustrações. Por estas páginas de cana regada pelo Subaé então límpido e caudaloso, os leitores e as leitoras verão que O Regresso é cachoeira, umidade, bambu, torrente de emoção capaz de conduzi-los(as) às múltiplas sensações de como viveram e sentiram cada uma destas personagens, ainda tão presentes dentro de nós.
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