Uma ideia central organiza as análises que se seguem neste livro: à medida que as organizações se desenvolvem, vão promovendo um processo de personalização de si, que remodela continuamente e em profundidade o conjunto social, colaborando decisivamente para o recrudescimento do narcisismo. Sob esse fundamento, tem-se que o narcisismo recrudesce na simples articulação arbitrária dos seus desejos doentios e no dinamismo inimaginável do ambiente corporativo que condena todos a vencer diariamente. Pode-se inferir que essa é uma condição não só desse ambiente, também se acredita que nele se reverbera com maior visibilidade, porém, no restante da sociedade ele se manifesta. Tanto que se faz uma abordagem sobre o ‘narcisismo de massa’, porém nele se materializam ações que corroboram intensamente para ‘dar vida’ a esse tipo narcisista.
Nessa performática linguagem, encerrado nas malhas das organizações, o desejo idealizado se materializa em um excepcional projeto comum imaginário, um ideal que seduz tal como o espelho a Narciso. Tomando esse elemento norteador, este livro enseja oferecer um constructo teórico sobre o drama do individualismo no mundo do trabalho. Cumpre ressaltar que se entende que esse não é apenas uma conjunção das organizações, mas nela instala-se um ‘palco’ perfeito para a ressonância das práticas narcíseas. Sob esse fundamento, o indivíduo desenvolve personalidade narcísica e agressiva disposta a tudo para obter o sucesso.