Em janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, RS, Brasil, duzentos e quarenta e dois jovens foram mortos no incêndio da Boate Kiss. Acaso? Destino? A mídia menciona abundantemente fatores óbvios de imprudência e leviandade na preservação da vida daqueles que lá trabalhavam e daqueles que lá estavam em busca de lazer e descontração.
Pidgeon e O’Leary (2000) desenvolveram estudos para compreender processos de incubação de erros que se acumulam no decorrer de anos e aumentam a vulnerabilidade de grupos, organizações e sociedade em geral para acidentes e catástrofes.
O interesse em conhecer aprofundadamente as interfaces entre os fenômenos segurança e cultura em organizações de trabalho, assim como a crença de que seja possível o fortalecimento de organizações produtivas e saudáveis, foi o que conduziu à realização deste estudo, alicerçado na perspectiva da Psicologia das Organizações e do Trabalho.
Os conhecimentos desenvolvidos nesse ramo da Psicologia têm sido reconhecidos e utilizados por profissionais de diferentes áreas para compreender, por exemplo, o que promove a ocorrência de comportamentos seguros e/ou preventivos nas organizações de trabalho, ou como a cultura organizacional pode influenciar tais comportamentos, não apenas na prática destes atos, mas também nas decisões que os envolvem.
Neste livro descreve-se uma metodologia de acesso e análise da cultura organizacional útil para fundamentar o fortalecimento de (sub)culturas de segurança. A recorrência de comportamentos seguros, portanto, também está alicerçada em valores, crenças e suposições básicas (pressupostos) que fundamentam a cultura organizacional de determinado contexto de trabalho (MADALOZZO, 2014). Acessar tais suposições pode contribuir para encontrar formas de promover culturas preventivas, evitando, assim, doenças e acidentes de toda ordem.
Dedicamos toda a energia investida neste estudo para as 242 vítimas do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, em janeiro de 2013, a seus pais, familiares e amigos.
Essa tragédia deverá ser lembrada como exemplo nefasto de processos de incubação de erros sucessivos e negação psicótica de riscos, a que todos continuamos sujeitos.
Que crenças enraizadas nos mantêm reféns dos processos que alimentam a insegurança?
Os Autores