A proposta inovadora deste livro inverte a direção do diálogo entre as gerações. Escritos em estilo pessoal, sete ensaios de jovens psicanalistas, autores talentosos, são comentados por colegas mais experientes.
O termo clinicidade condensa e expressa dois níveis distintos de angústia ligados à formação psicanalítica. Enquanto “capacidade para a prática clínica”, há angústia porque a clinicidade só pode ser construída no terreno sempre movediço da própria prática. Além disso, ela depende de um lento e penoso trabalho psíquico de metabolização do Outro em nós – autores, analista, supervisores, instituição.
Os textos permitem apreender um segundo nível de angústia ligado à clinicidade: trata-se da própria possibilidade de “exercer a clínica na cidade”. Há um claro desencanto com as cidadelas ligadas à formação psicanalítica construídas por gerações anteriores. Escuta-se nas entrelinhas o sofrimento produzido por modelos de transmissão que se tornaram problemáticos para os mais jovens.
A própria existência de um livro com depoimentos sobre contradições internas ao campo da formação, escrito por psicanalistas de diversas procedências teórico-clínicas, sugere que pode estar em curso uma mutação, cuja condução caberia aos mais jovens de idade e de espírito.
Marion Minerbo
Psicanalista, Analista Didata e Docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBP-SP. Doutora em Psicanálise pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
Confira também a entrevista “Melhor e Mais Justo: Ódio, nas ruas e nas redes” publicado no Youtube:
Bloco 1 : http://www.youtube.com/watch?v=iOeSUiNN-bQ