O livro Corpos Deslocados – Cartografias da Loucura aborda a problemática da captura discursiva dos afetos, dos comportamentos e dos corpos tidos como dissonantes bem como de possíveis estratégias de resistência.
Os textos com suas variadas abordagens possuem em comum a preocupação de tematizar como a psique, o corpo e suas manifestações entram no terreno da narrativa e do pensamento. São as andanças para fora das margens dos discursos usuais sobre o corpo o traço típico deste livro. As narrativas não tratam dos corpos em sua condição de verdade, mas como as produções discursivas e as práticas que neles atuam, realizam sua condição de deslocados – e também de resistentes.
Como um dos nortes mais claros deste livro caracteriza-se pela fuga de uma descrição ou explicitação do corpo para tratar dos corpos que são postos a funcionar pelas mãos das descrições e explicitações que lhes desenham, vários textos usam como referencial o pensamento de Michel Foucault.
Também os textos que caminham pela Psicologia, pela Psicanálise, pelas análises de tratamentos concretos dispensados aos corpos e seus transtornos mentais, olham com suspeita o campo da “verdade” sobre o corpo. Todos projetam o cuidado e a sensibilidade de questionar as circunstâncias e as condições de inscrição na realidade do chamado corpo deslocado. O deslocamento, assim, longe de ser uma condição do corpo, seria a forma de sua aparição, enviesada pelos saberes que o dizem e que sobre ele atuam.
Alguns textos não partem dessas constatações, mas chegam a elas pela via da exposição do incômodo dos corpos deslocados e dos tratamentos a eles dispensados.