Rubens Alcântara acaba de completar sessenta anos de idade e decide escrever suas memórias, repletas de um pessimismo ímpar. Desde as primeiras linhas, já estabelece uma relação conflituosa até mesmo com o leitor, advertindo-o que perdeu a memória há alguns anos e que por vezes tem átimos de insanidade que por descuido podem passar da cabeça à tinta e da tinta ao papel.
Essa relação se abranda de quando em quando, tendo em vista a ambivalência dos sentimentos do narrador, que diz habitar o limite que separa loucura e sanidade, devaneio e realidade. Diagnosticado pelo neurologista e velho amigo Andrade, autodenominou seu mal de Síndrome Depressiva Rubensiana, convicto de sua singularidade.
Cioso de sua distinção e poder, Rubens atribui todas as suas frustrações a uma única causa: Tavares, que o teria separado de Iracema e lhe desferido um golpe que culminou em sua falência. E quiçá o levado à prisão. Será que Tavares e Iracema realmente o traíram? Mais além, serão os sentimentos transpostos ao papel pelo narrador sinceros ou artificiosos? Em suas próprias palavras, seja como for, estás livre para pensar o que quiseres e tirar tuas próprias conclusões, que a nossa mente só nós conhecemos, e às vezes nem isso.