Neste livro, o termo “psicologia” se pronuncia numa perspectiva que, sem coincidir com a fenomenologia, nela se inspira para se imbuir de uma postura que ultrapassa a si mesma enquanto mera ciência da natureza, para tornar-se uma ciência do vivido.
Na primeira parte, estão elencados três capítulos de cunho teórico. Tais capítulos auxiliam na compreensão das articulações possíveis entre fenomenologia e psicologia. O intuito é fomentar diferentes olhares para a relação entre ambas e discutir as implicações teórico-práticas desse encontro. No primeiro, Adriano Holanda problematiza a definição do termo, apresentando-a como um método descritivo, compreensivo, eidético e reflexivo, sem confundi-la com uma corrente de pensamento, exclusivamente. No segundo capítulo, Jadir Machado Lessa e Roberto Novaes de Sá apresentam a psicoterapia de base fenomenológico-existencial, a qual tem como preocupação central a compreensão da existência concreta, em oposição às explicações teóricas abstratas de inspiração científico natural. No terceiro capítulo, Norberto Abreu e Silva Neto, in memorian, apresenta o método fenomenológico existencial criado e desenvolvido por Minkowski, principal introdutor da fenomenologia alemã na França.
Na segunda parte, outros três capítulos descrevem investigações empíricas que se inspiraram na fenomenologia, tomando-a como base para o delineamento metodológico e também para a descrição e análise do material encontrado nestas investigações. Deste modo, no quarto capítulo, Luciana da Silva Santos apresenta pesquisa que buscou compreender as experiências de mulheres donas de casa, o significado do trabalho doméstico não pago e a influência dessas vivências na saúde mental das mesmas. O quinto capítulo, de autoria de Miguel Gil Pinheiro Borges, Marta Helena de Freitas e Vicente de Paula Faleiros, ilustra o emprego da postura fenomenológica na investigação do sentido do suicídio para mães que perderam seus filhos por meio deste ato. Finalmente, o sexto capítulo, de autoria de Filipe Starling Loureiro Franca e Marta Helena de Freitas, descreve pesquisa realizada com usuários da hoasca (ayahuasca) em rituais por eles vividos como sagrados, buscando investigar quais os sentidos atribuídos a esta experiência e o modo como estes organizam em suas vidas.
Deste modo, em seu conjunto, este livro apresenta a aplicabilidade teórico-conceitual de conceitos chaves em fenomenologia para as pesquisas em psicologia, como também contribui para uma discussão aprofundada das implicações para a prática clínica em psicologia em diferentes contextos.