A literatura em prosa do autor tem seu destaque nas narrativas em que a trama é urdida com esmero de detalhes e as personagens representam a busca pela superação na rotina do cotidiano. “A técnica de intercalar narrativas, misturando as secundárias com as principais, é de grande importância para a sustentação do mistério”, no dizer de Miguel Sanches Neto. Analisando Corpo de Marfim, o mesmo escritor e crítico acrescenta que a obra por um lado se insere “dentro da atual vertente romanesca que trabalha com a reciclagem de temas e enredos, e, por outro, na narrativa de cunho policial. Dizendo apenas isso ficaríamos na superfície deste livro que traz algumas singularidades que ultrapassam o contexto em que se manifestam, problematizando a prática deste gênero”. Ainda sobre a mesma obra, o professor Renildo Meurer assim se manifesta em artigo publicado: “Como pode ser verificado, o romance é complexo, literário, na compreensão maior do termo e, não por isso, deixa de ser policial e de fazer parte de uma literatura de consumo, afinal Andy Warhol já provou que a arte, na era da produção, virou produto, e o produto virou arte”.
Por sua vez, a poesia de Juarez Poletto transita intensamente pelos caminhos da dualidade, principalmente se considerarmos suas duas últimas publicações: Vaidade (2002) e Adverso (2009). Na primeira, a obra é claramente dividida em duas partes: “Crimes”, que aborda o fazer poético como a tentativa impossível de traduzir a vida em palavras; e “Cuspe e Beijos”, que explora a existência sempre dupla, uma mescla entre o sublime e o vulgar. EmAdverso, a própria concepção dos poemas manifesta dois modos de composição, um fruto da motivação interna do autor e outro provocado pelos interesses alheios. Um e outro modo de criação estão também presentes na nova obra, Fisionomia Líquida, que já no título sugere um rosto mutável, como se a experiência vital fosse constantemente adequar-se a circunstâncias, como propõem os versos: “O que é a vida/ senão variedade? Moldura não cabe/ em sua anatomia”; ou ainda: “O rosto da vida tem cara curiosa/ geografia confusa/ relevo indeciso/ se adapta/ e dissolve o esquadro que o forma/ e troca aparência/ e não se conforma”. O início do poema “Poética” resume bem a angústia que a poesia de Poletto revela: “O exercício de dizer a existência/ é a tradução impossível/ de moldar água com ar”.
Hoje, portanto, ler a obra poética de Juarez Poletto já é uma necessidade, tanto no sentido da criatividade que manifesta, quanto na experiência vital que encerra.