As organizações podem ser analisadas a partir de uma dimensão crítica que deixe um pouco de lado a busca incessante da performance e procure entender, com mais profundidade, as relações de dominação e de desejos que envolvem a parceria indivíduo-empresa. Acredita-se que compreender esse discurso resulta no maior conhecimento sobre as empresas modernas, de suas práticas e modelos de gestão. E é por meio do discurso, em que conhecimentos e crenças são formados, e com toda carga ideológica manifestada na linguagem, que as empresas buscam o comprometimento afetivo do indivíduo, inserindo-o em uma relação que pode ocasionar inúmeros efeitos negativos em sua vida.
O discurso organizacional moderno abre a possibilidade de realização profissional e do atendimento dos desejos dos indivíduos. Por trás dele está subentendido o que uma empresa que se vê como “toda-poderosa”, como onipotente, acredita que tenha condições de fazer. Questiona-se, entretanto, o interesse da organização para com seus empregados, ou seja, em que medida o discurso organizacional tende a ser um logro, algo que não possibilita o desenvolvimento da criatividade do indivíduo, mas sim, que perpetua relações assimétricas de poder e que inviabiliza a autorrealização do indivíduo que tem, não raras vezes, a sua subjetividade sequestrada pelos modelos mais sofisticados de gestão.
E um destes modelos é a gestão do afetivo que caracteriza o controle presente nas organizações modernas, e que, por meio da parceria entre indivíduo e empresa, estreita os vínculos entre as duas partes. A empresa passa a ser percebida como a mãe protetora e não como uma instituição fria, que se preocupa unicamente com os seus resultados e lucros. E é esta organização que se torna, a cada dia, uma fonte maior de identificação e objeto de amor para o indivíduo, aprisionando-o nas redes de seus próprios desejos e ilusões.
O presente livro analisa o discurso organizacional em gestão de pessoas e as relações de trabalho e de poder nas organizações contemporâneas. É um estudo crítico das organizações e de suas práticas gerenciais obsessivas pela performance e por resultados. Pretende-se compreender como as pessoas se relacionam com as empresas, em que medida o indivíduo tem sua subjetividade manipulada e como determinados discursos auxiliam na internalização dos valores, crenças e práticas organizacionais. Nesse sentido, é importante compreender o discurso organizacional não apenas como fator constitutivo da realidade social, mas também como prática ideológica, que contribui na construção das identidades sociais e individuais. O discurso organizacional em gestão de pessoas não foi analisado apenas a partir do que é dito, mas do que não é dito e permanece na invisibilidade, escamoteando relações de dominação, que precarizam sistematicamente o trabalho na sociedade contemporânea. O sucesso, o comprometimento organizacional, os modismos gerenciais e a participação são alguns dos temas analisados criticamente, após reflexão teórica no que se refere às relações de poder e de desejo nas organizações atuais.