“Memória Política, Repressão e Ditadura no Brasil” traz para o público uma das maneiras de narrar a história de um período de tanta repressão como foi o da ditadura militar no Brasil, quase sempre relegada aos subterrâneos da História e da memória oficial. Mais que isso, traz à luz a memória da resistência e da luta política dos movimentos sociais populares que recusam as versões instituídas pela memória oficial.
Ao longo do livro, a autora procura mostrar que na memória das lideranças políticas (sindicais e comunitárias) entrevistadas ainda estão presentes os legados da repressão policial, da impunidade e do autoritarismo na sociedade brasileira especialmente nas instituições políticas, policiais e, no interior das próprias organizações comunitárias e movimentos em que participam. Não obstante, na contramão da história aparece um legado especialmente importante para os movimentos sociais: a existência de uma memória política construída pelos movimentos sociais que se preocupam em transmitir às novas gerações os acontecimentos ocorridos no período da ditadura militar.
Embora admitamos que exista um processo de “esquecimento” forjado e legitimado por uma “memória oficial”, que se fundamentou na propagação do terror e do medo ou na ocultação dos acontecimentos de violência política – produzindo a alienação e a desmobilização da grande maioria da população brasileira que não se envolve em ações políticas, é fundamental destacar que a experiência de participação possibilita a reconstrução de uma memória política, que rompe com essa alienação por meio da crítica à memória oficial, potencializando os que hoje atuam nos movimentos sociais a continuarem a luta contra o autoritarismo político, a dominação e a injustiça, em busca de uma sociedade que de fato seja justa e democrática.
“Memória Política, Repressão e Ditadura no Brasil” é um livro que demarca o ponto de partida de uma nova frente de pesquisa no Brasil. Além de oferecer um estudo empírico complexo sobre a memória e a consciência política, a autora também aproxima o leitor e o pesquisador brasileiro dos estudos e teorias desenvolvidas no exterior sobre esse tema, até hoje relativamente esquecido em nosso meio. Por essas duas razões, acreditamos que o trabalho de Soraia Ansara seja um passo importante na direção de focalizar a memória psicopolítica como um dos aspectos centrais a serem considerados no estudo da realidade política brasileira” (Salvador Sandoval).