Mais que uma reflexão dos anos de avanços e retrocessos da democracia brasileira Diplomacia e Desigualdade fotografa a experiência política da prática de direita com discurso de esquerda. Somatório de propostas pela eliminação de medidas epidérmicas sem transformações estruturais, esse livro apresenta, em diferentes capítulos, uma anatomia da legenda ativa e propositiva que a festejada diplomacia presidencial criou para si mesma. Atento para as relações econômicas internacionais, reserva particular espaço ao custo ambiental da monocultura sojeira e do latifúndio canavieiro, fonte do bioetanol.
Em busca de referenciais para construir a teoria da acoplagem, o texto agrupa modernidades e desenvolvimentismos. Transporta o leitor até o modelo responsável pela tecnologia agrícola de ponta. Tecnologia que, além de acelerar as mudanças climáticas, desova produtos primários sem-valor agregado nos mercados e torna mais longevas as desigualdades no sistema internacional. A novíssima questão da água virtual no comércio internacional de commodities, agrupado nesse retrato em branco e preto das relações internacionais, exemplifica o custo do desenvolvimentismo de segunda-mão. Desvendando paradoxos, explica razões da condescendência da democracia brasileira com os incêndios nas florestas e nos cerrados amazônicos. Na sociologia comparada com vários países vizinhos, o estudo apresenta uma Amazônia indígena salpicada de exilados ambientais transformados em garimpeiros. Mostra para o leitor a encruzilhada do indigenismo missionário e do capital simbólico das terras indígenas, tão importante quanto seu capital ambiental.
A presença indiana e chinesa clama por cuidados nessa geografia que ocupa cerca de 62% do Brasil e grandes áreas nos demais membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. Aborda a economia paralela responsável pelo contrabando do couro, ouro e pedras preciosas no mercado dos BRICS.
Apontando a urgência de romper com o ciclo das esperanças ambíguas, Diplomacia e Desigualdade desconstrói o mito da excelência da política externa de uma sociedade enfermada pelo apartheid social. Rasga o véu de silêncio sobre os equívocos do Itamaraty que construiu para si uma imagem bem melhor da que tricota para o Brasil. A nova edição enumera os interesses contra a erradicação de privilégios do último país a abolir a escravatura negra e anota os paradoxos do poder desinteressado em transformar a terra brasileira em potência detentora da maior reserva biológica do planeta. O aumento da plantation e o desinteresse pela economia verde transformam a Amazônia na última fronteira agrícola mundial. Contando tudo isso ao leitor e reclamando da inexistência de reformas estruturais, os capítulos buscam alternativas. Procuram soluções a desfavor de conflitos religiosos e étnicos em formação. Sabendo que quem avisa amigo é, alerta sobre o perigo do legado maldito de eterno país do futuro.