Pela primeira vez na história desse país uma mulher assume o mais alto cargo da Administração Pública, momento em que a obra e a ideia que ela contém tornam-se extremamente atuais e apropriadas: mostrar o olhar da mulher sobre a família e sob essa ótica, as construções sociais e jurídicas da família.
A presente obra surgiu do debate de um grupo de mulheres, professoras de Instituições de Ensino Superior, três delas de diferentes nacionalidades, atuando em diferentes áreas do saber e em diferentes países (Brasil, Portugal e Espanha), que se debruçaram sobre o mesmo objeto: a família. O resultado foi um olhar multidisciplinar e exclusivamente feminino, de profissionais que se encontram à frente de estudantes universitários, graduandos e pós-graduandos contribuindo, e por que não dizer influenciando, a formação de opiniões e de posicionamentos de futuras gerações de profissionais e pesquisadores de carreira jurídica.
Com efeito, a família tem sido objeto de interesse de diversas áreas do conhecimento há várias décadas, sendo que muito já se escreveu e ainda se escreve sobre a família e suas implicações nas esferas privada e pública da vida em sociedade, mas muito ainda há para ser investigado, tematizado, definido e deliberado quando se trata da família. Tanta produção científica e tão diversificada indica um objeto de dimensões ainda a serem exploradas, com incrível capacidade de transformação, sendo fato que todas as abordagens são intimamente relacionadas.
Tudo isso se deve ao fato de que a família como objeto de estudo apresenta uma peculiar dificuldade inicial com a qual se depara qualquer investigador, e essa dificuldade reside na própria delimitação do objeto. Não sem razão disse R. D. Laing (1971) em sua análise psicanalítica da política da família que “quanto mais avançamos no estudo da dinâmica da família, mais difícil se nos torna discernir em que medida a dinâmica da família é semelhante e contrastante com a de outros grupos que não designamos por famílias, para não falarmos já das diferenças entre as diversas famílias”.
Vencida essa etapa por alguma decisão metodológica, a capacidade de absorção das variações éticas e morais que acontecem na sociedade, afetam diretamente a família e interferem novamente no trabalho do pesquisador.
Espera-se, sinceramente, que as exposições feitas em cada artigo constituam ao menos uma centelha, porém, forte o suficiente para intensificar os debates em torno da FAMÍLIA.