Esta obra retraça o percurso da menina Juliette no sistema de proteção à infância na França. Levando em conta a equivalência do direito dos pais e direitos da criança, confrontados à situação de perigo para Juliette, ao grave sofrimento psíquico do pai, à “patologia relacional” dos pais, as instâncias judiciárias se embaraçam.
A autora, psicóloga num serviço mandatado pelo Tribunal das Crianças de Paris, relata o trabalho realizado com a criança e seus pais, durante cerca de cinco anos, em equipe multidisciplinar. Será obrigada a inventar cada etapa da sua intervenção, postulando hipóteses, orientando a sua posição clínica, num contexto institucional codificado pela justiça. Será necessário ouvir a criança e ajudá-la a entender os riscos, as ardilezas em que se encontra, o teatro em que atuam seus pais e ela mesma, relevando os efeitos da sua singularidade subjetiva. Trata-se de um relato vivo sobre os acontecimentos que se acumulam, uma discussão de caso clínico e reflexão sobre o universo institucional que abrigou esse trabalho na encruzilhada do educativo, do jurídico e da psicanálise. O caso escolhido para este livro retrata também uma problemática bastante atual nas sociedades modernas: multiplicidade de vínculos familiares, separações e conflitos, além das questões próprias à sexualidade da criança e do adolescente.
Este livro é direcionado para estudantes e pesquisadores em diferentes áreas: juristas (magistrados, promotores), assistentes sociais, clínicos (psiquiatras, psicólogos, psicanalistas), pedagogos, professores, educadores, sociólogos, antropólogos, conselheiros tutelares, diretores de instituições e responsáveis por programas e projetos na área da família, infância e adolescência.
COLEÇÃO A QUEM PERTENCE UMA CRIANÇA?
A criança da sociedade moderna ocidental ocupa o lugar que antes era dedicado ao casal. A estabilidade até então esperada nos laços conjugais desloca- -se sobre os vínculos de filiação. Tanto o homem quanto a mulher reivindicam seu filho, sua filha para si, de maneira irrevocável, imprescritível. Representaria a criança o único vínculo definitivo, aquilo que não se perde?
À criança almejada, objeto de disputas, de amor infinito, nunca suficientemente outorgado, corresponde outra criança, em busca de ser acolhida e reconhecida no desejo dos pais, no lugar legítimo que a sociedade lhe deve.
A coleção “A quem pertence uma criança?” procura levar ao público profissional, obras de outros profissionais de diferentes áreas, bem como universitários e pesquisadores, que trabalham nas múltiplas faces dessas discussões fundamentais de nossa época.
A coleção inscreve-se num projeto à dimensão internacional, apoiada na ética da psicanálise, aberta a outros campos disciplinares para assim melhor aproximar as questões próprias aos vínculos entre pais e filhos.