Com sensibilidade ímpar para entender a necessidade mais básica da alma humana – ser acolhida, a autora compreendeu o real sentido do amor crístico: acolher amorosamente.
Pode parecer até fácil de dizer e entender, mas, acreditem, é algo de difícil prática, principalmente em uma sociedade alicerçada em estereótipos dos mais diversos e ininteligíveis.
Estereótipos que segregam as pessoas e as classificam em aceitáveis ou inaceitáveis, ignorando a verdadeira natureza humana que é a diferenciação.
O ser diferente é inerente à nossa natureza, entretanto a violência segregacionista se instala de forma indelével até mesmo em discursos aparentemente inofensivos e politicamente corretos.
Com uma capacidade intelectual privilegiada, “a nossa Ruy Barbosa de saia”, como já foi apropriadamente classificada, a magistrada Luislinda de Valois lança luzes onde, na rotina do dia a dia, as trevas do discernimento torto ofuscam a verdade.
A verdade, essa senhora de alma pura – mas não necessariamente branca, podendo até mesmo sê-la, porque a brancura não a excluiria dessa qualidade e de nenhuma outra – nos retém, nos faz reduzir o passo e prestar atenção ao que nos acostumamos a ignorar.
A escritora e magistrada há décadas agrega à atividade da magistratura, com recursos próprios e ajuda de amigos, a atenção social às camadas mais carentes da população, notadamente a população negra, com palestras educativas, doações de gêneros alimentícios e de higiene, entre muitos outros cuidados.
Com maestria, de forma direta e objetiva, nos conduz à luz do reconhecimento de uma verdade dolorosa, que se mantém escondida atrás de cortinas imateriais, porém pesadas, à realidade da dor secular que atinge a todo um povo que, refém de leis hipócritas, é mantido de mãos atadas, mesmo com os enferrujados grilhões aparentemente rompidos.
Luislinda de Valois nos põe a refletir, com ânsia de mudança, que é preciso curar as feridas, mas não poderemos esquecer as cicatrizes se elas continuarem a sangrar.
Vereadora Tia Eron – Pastor Márcio Marinho